N.2, 2018
Temos assistido recentemente a um constante silenciamento de vozes, uma ausência de representatividade nas instâncias de poder, e espaços cada vez menos dialógicos e democráticos de debate no Brasil. Diante disso, as instituições de ensino, espaços primordiais de trocas de saberes, têm sua função social ainda mais evidente na formação de sujeitos críticos, afetivos e que respeitem as diferenças. De ambiente de controle a espaço de construção coletiva, a escola pode desenvolver tanto práticas voltadas para a alteridade quanto privilegiar o caminho inverso, sendo a competitividade seu objetivo maior. Então, qual escola é possível para a desconstrução de desigualdades sociais tão fortemente estabelecidas? De forma específica, qual o papel da escola pública, espaço aberto e comprometido com a sociedade?
Nesse sentido, a presente chamada de contribuições para o segundo número da Revista Perspectivas em Educação Básica do Colégio de aplicação da UFRJ tem como tema a “Função social da escola pública e suas potências.” Em comemoração aos 70 anos do CAp UFRJ, e sua histórica atuação e luta por uma educação e formação docente críticas, o objetivo é repensar as práticas político-pedagógicas que destaquem a importância da escola pública, laica, gratuita e de qualidade.
Pretende-se, nessa edição, realizar a reflexão sobre a construção do conhecimento, entendendo-a como permeada por relações de luta, poder e dominação (FOUCAULT, 2005, p. 23). Assim, possibilidades de uma sociedade mais justa podem ser discutidas quando nos voltamos para os distintos saberes presentes e desenvolvidos na escola e sua potência de atuação um espaço tão diverso e rico. Desse modo, é importante lembrar das famosas palavras de Boaventura Sousa Santos de que “temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.” (SANTOS, 2003, p. 56)
No atual cenário de elaboração de leis que ferem a autonomia dos professores em sala e atingem diretamente o ensino público, torna-se premente inserir a escola num contexto onde a prática pedagógica está fortemente atrelada a aspectos políticos e sociais. Portanto, vemos a escola pública como uma “instituição socialmente produzida, em um espaço de luta entre a reprodução das desigualdades sociais e a produção de possibilidades mais democráticas.” (ESTEBAN, 2007, p. 12).
REFERÊNCIAS
ESTEBAN, Maria Teresa. Educação popular: desafio à democratização da escola pública. In: Cad. Cedes, Campinas, vol. 27, n. 71, p. 9-17, jan./abr. 2007. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br.
FOUCAULT, Michel. As verdades e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2005.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003: 56.
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TRANSVERSAIS
Entrevista Éle Semog e Eliana Alves, por André Mourão de Uzêda
PERSPECTIVA CAPIANA
70 anos!, por Militza Bakich Putziger
Uma “casa comum” para a formação de professores: compromisso da Universidade com a educação pública, por Ana Maria Monteiro e Thays Merolla Piubel
Encontros e currículos vividos na trajetória de Nilda Alves, por Allan Rodrigues, Ana Angelita da Rocha, Rafael Arosa de Mattos
Um olhar Capiano, por Silmar Marques
INTERSEÇÕES
A "migração perversa" de jovens para o EJA - um estudo de caso, por Amanda Guerra de Lemos
CAp Literário 2016: uma experiência artística, crítica e pedagógica, por Carolina Fabiano de Carvalho
Fotonovelas literário-capianas: novos olhares sobre “O Pagador de Promessas”, por Daniele Lopes dos Santos e Lorenna Bolsanello de Carvalho
A interface rural-urbana e o trabalho de campo no currículo de geografia no ensino médio, por Felipe da Silva Machado
Inovação social e o cursinho popular Pré-Coluni UFV, por Giovanna Halfeld e Allain Ws Oliveira
A extensão universitária como espaço de construção de coletivos docentes: contribuições da biologia para as discussões sobre gênero e sexualidade, por Aline Silva Machado, Angela Machado Bouzan, Isabel Victória Corrêa Van Der Ley Lima, Filipe Cavalcanti da Silva Porto, Natália Tavares Rios, Carla Mendes Maciel, Rodrigo Cerqueira do Nascimento Borba, Matheus Henrique da Mota Ferreira, Ana Carolina da Silva Cunha, Daniel Bressan de Andrade e Camila Venturini Suizani
Dança Circular e educação básica: existe relação?, por Jailton Thulher
Rodas de leitura: práticas de letramento na Educação de Jovens e Adultos, por Luana Machado Florindo, Rony PereiraLeal e Sandra da Silva Viana
Para além dos pontos cegos: uma análise contextual das práticas LGBTQ+fóbicas no contexto escolar, por Maya Inbar
Educação Integral e(m) Tempo integral na sociedade líquido-moderna: as contribuições de Zygmunt Bauman sobre o papel, por Márcio Bernardino Sirino, Arthur Vianna Ferreira e Patricia Flavia Mota
As potencialidades pedagógicas dos games de estratégia: desenvolvendo práticas inovadoras no ensino de História, por Pedro Guimarães Pimentel e Rômulo Rafael Ribeiro Paura
GRADAÇÕES
Desafios na formação docente: relatos de experiência de futuras professoras, por Ana Angelita da Rocha, Dandara Santos, Isabel Ávila, Lívia Maria Magalhães e Lívia Simões
Ensino de flauta doce nas aulas de música na educação básica - um relato de experiência, por Ullisses Areias de Paiva César e Claudia Helena Alvarenga
OLHARES
Poder feminino: a revolução – nada silenciosa – das mulheres do CAp-UERJ (2016 – 2017), por Deborah da Costa Fontenelle e Guilherme Nogueira de Souza